quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Eu Queria Que Você Soubesse

Eu queria que você soubesse
Que vejo um ser buscando o abstrato
Renegando o mais simples ato
Respirando apenas por contrato

Eu queria que você soubesse
Que vejo um ser questionando a vida
Que é apenas para ser vivida
Tecendo odes para cada dúvida

Eu queria que você soubesse
Que vejo um ser vestindo máscaras
Utilizando miríades de caras
Rejeitando uma vida às claras

Eu queria que você soubesse
Que vejo um ser abraçando a escuridão
Congelando o próprio coração
Fazendo um fardo de sua solidão

Eu queria que você soubesse
Que vejo um ser correndo em disparada
Sem planejar uma única parada
Deixando para trás cada alma amada

Eu queria que você soubesse
Que vejo um ser em branco e preto
Escravizando-se pelo concreto e reto
Sendo que cores e curvas fazem o incerto

Eu queria que você soubesse
Que não importa o que tens por dentro
Importa o que deixas lhe sair de dentro
E quão maravilhoso é esse encontro


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Fim Dos Dias

O prelúdio arranca tudo de nós
Até a paisagem que nos cerca
Tornando seca toda a alverca
Mesmo Deus deixou-nos a sós

Caem as penas brancas e puras
Últimas palavras de um céu incerto
O véu foi rasgado e o templo aberto
Fogo e sangue correm pelas ruas

As preces agora são folhas ao vento
O chamado por muitos não foi atendido
Tendo por outros o pacto não cumprido
Já findo é o tempo do arrependimento

Busquemos agora a Cruz da Trindade
Vagando pela escuridão que tudo abarca
Castigo por rompermos a aliança da Arca
A última porta de acesso à eternidade



sábado, 23 de agosto de 2014

Luar, Rosas e Canela

Um incêndio na neve prateada queima o céu
Um rosário de pecados pesa em meu peito
E meu coração quase paralisado por este fel
Irá só contigo sem ter direito ao último leito

A insônia desta lua aveludada nos ilumina
Através dos tristes vitrais desta sala secreta
Cujas portas trancamos com a nossa sina
Dancemos ao som desta nossa cançoneta

Entre volteios e passos acendemos o fogo
Gentilmente te farei derreter feito uma vela
Tudo que sentimos não é apenas um jogo
É um feitiço de amor entre rosas e canela

Ninguém pode quebrar estas correntes
Que nos enreda por toda a eternidade
Criaremos asas com as nossas mentes
E assim voaremos por essa felicidade


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Degeneração

Entre fatos desencontrados
Retratos do que fora perdido
Sentimentos já maltratados
Sombras do que fora sentido

Palavras avessas foram soltas
Gravando sinais com fogo frio
Corações sob imortal martírio
Sangrando nas fendas abertas

Todo derrame tem um preço
Todo vexame tem uma farpa
Tem faces que são de gesso
Tem sons que imitam a harpa

Uma jornada por maravilhas
Um reencontro com mazelas
Cruzando por escuras vielas
Escondendo velhas matilhas

Esperança, a velha que agoniza
Lembranças tornaram-se mundo
O fim quase chegando ao fundo
Sonho acabado que não realiza





sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Complexos

Movimentos erráticos
Desconexos da realidade
Carecendo razão e sensibilidade
Parecendo uma dança de lunáticos
Sôfregos e emblemáticos
Na imaturidade

Nascimento sem dor
Ornamento sem louvor
Respira sem merecimento
Desfrutando cada movimento
Tirando do universo o seu calor
No atrevimento

Torrente de emoções
Vertendo novos pecados
Ordenhando velhas ilusões
Condenando todos os lados
Vergonhosas violações
De enamorados

Não pede mas toma
Sem honra e sem forma
Desejando um nome agora
Para ser chamado sem demora
Sempre saboreando toda a gama
Da fama



segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Aquele Tempo

Eu quero o tempo de volta
Aquele que perdi ao vento
Num descuido de momento
E que o passado não solta

Tempo de fáceis sorrisos
Cheio de dias mais felizes
Tempo de muitos matizes
Com sonhos e improvisos

Hoje é tempo de lembranças
Fatos que recordam crianças
Que hoje não crescerão mais
Que foram deixadas para trás

Eu quero o tempo de volta
Aquele que deixou saudade
Ficou com a minha sanidade
E que o passado não solta




quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Medo

Assassino da razão
Uma morte pequena
Gerando obliteração
Um fruto de geena

Bebe ignorância
Cultiva o ódio
Verte arrogância
Caos em bródio

Péssima companhia
Mau conselheiro
A alma se resfria
Torpor derradeiro

Trilha devastada
Onde nada restou
Coragem obstinada
Quem lhe derrotou 

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Anunciando o Verão

O sol está a pino
O ar está parado
Mente em desatino
E o corpo cansado

Na pele suor escorre
A preguiça percorre
O calor concentra
E a vontade centra

Uma sombra
Uma busca
Assombra
Ofusca

Perdidos na luz
Clamam a escuridão
Corpos seminus
Anunciando o verão



sábado, 2 de agosto de 2014

Um Abismo Invisível

Desespera-me este teu olhar perdido
Perscrutando um mundo sem sentido
Como se olhasse um vazio/dimensão
Que somente tu podes colocar a mão

Te imploro mais uma vez
Não vague por essa vereda
Desista dessa insensatez
Que ao nosso amor enreda

Seguir-te eu não sou capaz
Eu não enxergo o que tu vês
O fadário que tua mente fez
Só me deixa olhar para traz

Abandone já este dom/maldição
Que rompe minha compreensão
Deixando-me apenas a saudade
Uma solidão por toda eternidade