terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Solidão Molhada

Ela perambula na escuridão
Com amantes imaginários
E sonhos molhados em solidão
Todos rabiscados em diários

Degusta o próprio mal humor
Como se fosse Vinho do Porto
Planta o fel com muito louvor
Depois se diz vítima do horto

Se a luz penetra seu mundo
Põe dentes e garras em riste
Sempre cavando mais fundo
Cultuando uma áurea triste

Apenas o pior de si enxerga
E também o pior do mundo
A toda esperança renega
Maculando tudo bem fundo

Nada cresce em sua sombra
Seu beijo é sempre de morte
Põe tudo sobre a alfombra
No lado escuro da sorte



sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Inusitadamente Óbvio

Ouvi das pequenas gotas de chuva
As lembranças do vasto oceano
Ouvi da fraca luz refletida pela lua
As lembranças do sol soberano

Na sepultura mais profunda
Achei o princípio da vida
Na colheita mais fecunda
Achei a morte em sua lida

Percebi entre as cálidas estrelas
A escuridão fria deste universo
Percebi entre as chamas das velas
A escuridão do ódio já disperso

No combate mais insano
Vi brilhar a luz da razão
No ato mais mundano
Vi a tábua de salvação

Encontrei nas dobras do linho
O desejo e o interesse arfando
Encontrei nas curvas do caminho
O bem e o mal confabulando




terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Jóia Bruta

No interior da rocha sólida
Um cristal bruto encarcerado
Ansiando pela luz da vida
Esperando ser lapidado

Talento a ser aprimorado
Entre receios e sonhos
Coração quase dilacerado
Por desafios tamanhos

Disciplina e Inspiração
São apenas a base
Fé, força e determinação
Trazem uma nova fase

Os acertos são possíveis
Os tropeços inevitáveis
Realizações incríveis
Dissabores intragáveis

Busque sempre pelo que é
Não pelo que outros dizem ser
Não meça forças com a maré
Deixe fluir e aprenderá a ver



quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Papel Abandonado

Ai, pobre de mim
Como foste tão ingrata?
Dobrando-me sem perceber meu fim
Deixando-me num canto feito lata

Não sabes quantas horas esperei
Por estas palavras belas e exatas
De um poeta cujo nome não sei
Mas por te amar enfrentou bravatas

Desprezastes essas doces palavras
Não deste a hora que lhe foi solicitada
O amor não cresceu sem as tuas lavras
Mais um coração poeta ferido pela amada

Fiquei amarelo pelo tempo de tristezas
Desbotando as palavras a mim confiadas
Encontrado, virei fonte de mais belezas
E também de tristezas há muito confinadas

No passado recebi inspiração
Hoje eu inspiro outras mentes
De folha esquecida ao chão
Virei bits em eletrônicas correntes














Caros leitores de Poesias Amadoras.
Este foi mais um desafio da comunidade Caderno de Rascunhos. Um dos integrantes achou este papel perdido numa biblioteca pública e propôs que cada um escrevesse algo sobre o mesmo.

Segue abaixo o trabalho de outros integrantes.
 
Qual é a data exata - Diário da Solidão



quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Aún Réstame

Aún réstame un poco de alegría
Para reírme con un perrito
Para brincar en la lluvia fría
Para sonreír a un chiquito

Aún réstame un poco de compasión
Para dividir el pan
Para quedarme por otros en oración
Para ayudar aquellos que lloran

Aún réstame un poco de amor
Para olvidarme de las ofensas
Para oír a quien tiene dolor
Para ofrecer sin esperar recompensas

Aún réstame un poco de dignidad
Para no mirar para atrás
Para preservar mi intimidad
Para no te quererte más

Aún réstame un poco de todo
A pesar de todo lo que me tomaste
A pesar de todo lo que tengas fingido
A pesar de la forma que tú me sangraste

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Morte

Ela anda veloz e sorrateira
Entre a parede e a soleira
Seus passos apressados
São sempre sussurrados

Observa pelo meio das frestas
Aguarda em cantos escuros
Mesmo nos dias de festas
Ou nos de lamentos e urros

Sua hora é sempre oportuna
Seu ataque sempre certeiro
Não busca fama ou fortuna
Não se vende por dinheiro

As vezes recebida por dádiva
Noutras como uma maldição
Uma força feroz e primitiva
Que não atende evocação

Seu grande dom é a renovação
Incompreendida e renegada
A humanidade busca sua prisão
Mas à ela fora condenada




domingo, 1 de dezembro de 2013

Última Paixão


Uma vida sem sentido
Toda fora da realidade
Um amor sem sentido
Próximo da eternidade

Uma vida copiada
Entregue ao falecimento
Uma paixão distorcida
Luz sem conhecimento

Tudo está em colapso
Entropia em movimento
Um acaso ao relapso
Busca o esquecimento

Corpos entregues ao prazer
Destinos entregues à sorte
Nada mais para se fazer
Amar e esperar a morte

A certeza está no final
A incerteza no recomeço
Entre o bem e o mal
Ambos tem um preço

A lógica já está falha
A intuição já se esvai
Não haverá mortalha
O espaço se contrai




sábado, 23 de novembro de 2013

Maninho Poeta


Meu caro maninho poeta
Por que tu vives do passado
Nesta hora tão incerta
Depois de ele ter chegado

Nada conserta o que foi quebrado
Ninguém devolve o que não foi vivido
No tempo que foi tudo está perdido
E no que virá só o novo é encontrado

Meu caro maninho poeta
Lugar das lembranças é no passado
Busque uma vida correta
Sobre os escombros que ele tenha deixado

Ande na rua com mais atenção
Nunca seja pego na contramão
Por pior que seja nosso estado
Ele ainda vai ficar no passado

Olha sempre a frente maninho poeta
Cabeça erguida e Deus no coração
Ele é forte mas não é eterno não
Para todo mal a morte é certa

O dia sempre vai raiar
Ele querendo ou não
Pela força ou pelo perdão
Dessa nossa gente a labutar





Caros leitores de Poesias Amadoras.
Este foi mais um desafio da comunidade "Caderno de Rascunhos".
 - Dar uma resposta à música "Maninha" de Chico Buarque.
Segue abaixo os textos de outros membros da comunidade.




quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Momentos Felizes

Eles são os mais raros
Possuem muitas matizes
Sejam baratos ou caros
São momentos felizes

Não adianta tentar persegui-los
Não dão sementes ou raízes
Sejam agitados ou tranqüilos
São momentos felizes

Podem salvar um mês
Ou até mesmo uma vida
Chega um de cada vez
Mas sempre há uma partida

A felicidade é inconstante
E nunca pode ser medida
Não adianta ser vigilante
Sua chegada não é ouvida

Aproveite um momento feliz
Como se fosse o último da vida
Ela sempre está por um triz
E só tem choro na despedida



terça-feira, 19 de novembro de 2013

Caminhos Vazios

Sinto saudades do que não vivi
Dos sonhos que tive e perdi
Planos traçados com tanto esmero
Destroçados em meio ao desespero

Hoje estão a milhas de mim
Perdidos num lugar qualquer
Não os verei nem depois do fim
Novos não tracei um sequer

Assisto aos dias passando
Vejo as estações findando
Um novo verão se aquece
Mas o frio ainda permanece

O amor morreu no coração
Em meio à dor e escuridão
No vazio minha alma sofre
A solidão tudo encobre

A confiança foi destruída
Como uma veia obstruída
Amanhã o ontem se repete
O hoje mais nada promete

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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Infinitos Universos



São múltiplas linhas sempre paralelas
Começo e fim em longínquas eras
Com cores desde raras até singelas
Povoadas por inocentes, sábios e feras

Desconhecidos são seus propósitos
O pensamento não abarca essa esfera
Cria matéria da mais densa à etérea
E também seus próprios hemósitos

Dedicasse ao simples e ao belo
Também ao horror e ao complexo
Tudo tramado com o mesmo zelo
Abusando do côncavo e do convexo

Promove avanços no retrocesso
Destruindo para o novo surgir
Tira pura letargia do progresso
Matando para em seguida nutrir

É o bem em meio a escuridão
E também o mal no seio da luz
Semeia o amor e a solidão
Desorienta enquanto conduz



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domingo, 10 de novembro de 2013

Entropia Íntima

Estou vagando sem parada
Em uma noite interminável
Fazendo a vida sem morada
Por uma saudade inevitável

Preso em meio a um passado
Para o qual não posso voltar
Construções de um legado
Que nunca irão desmoronar

Quero escapar da realidade
Fugir desta gélida rotina
Sem esconder a verdade
A esperança é minha morfina

Um feitiço é tudo o que tenho
Vou cortar esta escuridão
O pecado original eu contenho
Sangro sozinho na multidão

Pesado é o fardo da melancolia
Tornando meu redor em ruínas
O mundo lançado na entropia
Sem direito a heróis ou heroínas

Em nada mais posso acreditar
Exceto naquilo que posso ver
Abraço a dor para me libertar
E para a justiça me favorecer

A realidade não mais importará
O pecado original destruirá a luz
O distúrbio nunca se findará
Ao apocalipse ele me conduz


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Vidas Escorridas

Eles passam todos apressados
Atrás de imaginárias perdas
Corações sempre estressados
Com mentes sempre lerdas

Como rotos julgam os rasgados
Buscam felicidades em quimeras
Querem por algo serem resgatados
Conquistar sem lutar com as feras

Perdidos que não saíram à busca
Desencontrados sem lugar marcado
Inchado ego cujo brilho se ofusca
Eterna esperança de um condenado

Escapistas em religiões vazias
Consagrados por gananciosos
De fé e amor são suas misérias
Pela mais valia eles são ciosos

Incapazes de construir a vida
Eles apenas corroem o tempo
Disputando uma tola corrida
Donde ninguém partiu atempo



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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Lado Negro



Sob a luz de minha consciência
Observo a escuridão em minha volta
Onde demônios rondam com constância
Esperando a chance como uma malta

São alimentados pelo meu ego
Crias paridas de insanos desejos
Pela força da fé eu os renego
Pela força do ódio dou-lhes gracejos

Seus olhos brilham na escuridão
Espelhos que refletem meus anseios
Encarnações lascívias de podridão
Que a ética encarcera em devaneios

Correm livres na imaginação
Criando palavras em meus dedos
Encarcerados em meu coração
Cães que guardam meus segredos

Sei que não posso expurgá-los
São partes daquilo que eu sou
Tenho a obrigação de dominá-los
Usando-os para chegar onde eu vou



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sábado, 2 de novembro de 2013

Conexão Falha


Passo por dias desconexos
Entre números sem sentido
Ontem e amanhã são reflexos
Deste hoje sempre perdido

Segue o andar das horas
Pelos giros da lua volúvel
Empurrada pelas auroras
Em um pacto indissolúvel

O vento sopra frio
A chuva cai quente
O céu fica sombrio
O sol brilha pungente

O tempo escraviza o indivíduo
A humanidade acelera o tempo
Profundidade é um resíduo
Superficialidade é o momento

Observo esse fluxo sem objetivo
Correndo por margens desoladas
O mergulho não é convidativo
Na espera não há dores ou risadas

Sou náufrago do passado?
Ou fui deportado do futuro?
Neste mundo não sou plugado
Nada encontro do que procuro


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Goodbye Dream and Way of Life

O direito está para dentro
O avesso está para fora
Da Terra se faz epicentro
A natureza ela só explora

Agigante-se sobre si mesma
Sem temer o próprio colapso
Corre cega para a apotelesma
Que no tempo é só um lapso

Um buraco negro anunciado
Na gravidade neocapitalista
O dito morto será “ressuscitado”
Em uma nova era estadista

O sonho devorado por suas serpentes
O caminho de vida trilhado até a morte
Haverá choro e ranger de dentes
O mundo abandonado a própria sorte

Alianças e choques de sobreviventes
Muitos felizes e outros descontentes
Um mundo de novas e velhas vertentes
Pleno de liberdades e opções latentes


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A Súcuba

Intentas solitária pelo mundo
Vergando palavras sem sentido
Perturbando o sossego moribundo
De quem não atina o tempo perdido

Sofres pela esquerda e pela direita
Rogando pragas de fossos profundos
Julgando o mundo como sendo perfeita
Desvirtuando teus reflexos imundos

Deliciasse da desgraça alheia
Da sorte queres um triunfo
Desdenhas da morte que te anseia
Desejas o amor sem ter o trunfo

Nada cresce em teus passos
O sal aflora pelas grotas
O pó preenche os poços
O fogo emerge das brotas

És o horizonte de eventos
O lugar onde a esperança falece
O terror dos últimos momentos
A hora da derradeira prece

Para os incrédulos um fascínio
Para os caídos uma perdição
Para os temerosos um vaticínio
Para os virtuosos uma tentação



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sábado, 19 de outubro de 2013

Black Bloc

Por que eles usam máscaras?
Para provocar o medo?
Ou porque sentem medo?

Ganham as ruas e praças
Para desafiar o governo?
Ou para criar desgoverno?

Destroem o público e o privado
Para punir os erros?
Ou para ouvir os berros?

Suas motivações são legítimas?
Ou não passam de intenções escusas?
Qual a verdade atrás das máscaras escuras?

São joguetes nas mãos da mídia?
São peões da oposição?
Ou soldados da situação?

Provocam medo no cidadão
Que só, refugia-se na inação
Mas com outros ele forma uma nação
E de posse dessa percepção
Todos unidos farão revolução
E os que vergam máscaras escuras
Serão todos varridos das ruas



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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Mais Rimas Pelas Tuas Crônicas

É difícil estimado escritor
Argumentar apenas com rimas
Mesmo assim irei compor
Mais “finais sinônimos”, como afirmas

Quero lhe dar os parabéns
Por criar teus próprios caminhos
Está é uma coragem que tens
E os corajosos caminham sozinhos

Uma solidão recheada de dissabores
Pois ela desperta o pior nos piores
Prepare-se para muitas dores
Que serão cada vez maiores

Não vá pensar que faço vaticínios
Apenas observo atendo a humanidade
Montando uma coleção de escrutínios
Classificando-os pela sua variedade

Assim nada mais me é surpreendente
Sigo vendo o futuro repetindo o passado
É de outro poeta essa verdade eloqüente
Mas tomo a liberdade de usar esse legado

A palavra medo rima com muitos vocábulos
Mas sempre pela ausência de fé é conjugada
E em muitos corações de hoje a fé foi alijada
Pelo fanatismo que brota em vários tabernáculos

Tu te descreves como um não crente
E sente-se frustrado pela cegueira alheia
Essa frustração é nada além da semente
De amor ao próximo que a divindade semeia

Com tempo descobrirás essa verdade
Em algum ponto entre hoje e a eternidade
Apenas faça a felicidade vir de dentro para fora
Pois no caminho inverso ela não se demora



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