domingo, 30 de outubro de 2011

Lilda – Renata – Bah

Quase três anos já se passaram
Desde o final de sua grande luta.
Luta da qual, todos participaram
Com uma esperança absoluta.
 
Era sua grande luta pela vida
Contra um inimigo silencioso.
A Morte em uma investida
Levara teu fígado precioso.
 
Para nesta luta concentrar forças
De seu trabalho abriste mão.
Anos dedicados às especiais crianças
Com muito amor e abnegação.
 
E quando mais força foi exigida
Para nesta batalha continuar.
A Faculdade tão querida
Também tiveste que abandonar.
 
Foram anos de idas e vindas
Do hospital para o lar.
Assistindo ao fim de outras vidas
Dentro da fila para transplantar.
 
Então de uma tragédia distante
Uma grande vitória surtiu.
De um jovem morto ao volante
Um fígado compatível surgiu.
 
Depois das aflições da cirurgia
Veio a alegria e o alivio.
A cada vez que o sol surgia
Sumia seu aspecto doentio.
 
Mas a Morte, paciente
Não abandonou trincheiras.
Continuou silenciosamente
Agindo de outras maneiras.
 
Os meses foram passando
A Faculdade foi retomada.
A Formatura acabou chegando.
Em Fisioterapia você foi diplomada.
 
Com uniforme branco e maleta na mão
Você começava novas jornadas.
Para exercer a sonhada profissão
Entre as crianças tão amadas.
 
Numa bela manhã de março
Novamente suas forças falharam.
Seus órgãos cobravam pelo esforço
Da primeira batalha que travaram.
 
Foram mais meses de idas e vindas
Do lar para o hospital
Mas numa noite de chuva e trovoadas
A Morte ganhava à final.
 
Era mês de novembro
Quente final de primavera
Em nossos corações o assombro
De como a Morte se impusera.
 
De que valeu a batalha?
De que serviu o transplante?
Se tão jovem ganhaste a mortalha
E nós a saudade, torturante.
 
Quisera eu ter as respostas
Para essas duas questões.
Mas nas mãos de Deus elas foram postas
E você continua em nossos corações.      


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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Atmosfera

Brisa.
O calor ameniza.
Aos longos cabelos alisa.
Traga de volta o que harmoniza.
 
Vento.
Ar em movimento.
Sopro que traz alento.
Leve embora todo sofrimento.
 
Ventania.
Plena de energia.
Faz o moinho girar com valentia.
Carregue consigo toda e qualquer porcaria.
 
Tornado.
Um demônio irado.
Tudo do chão arrancado.
Com terror deixe cada espírito marcado.
 
Furacão.
Ira de Deus no chão.
Que traz consigo a inundação.
Revolva toda a Terra provocando renovação.
 
Aragem.
Silenciosa na passagem.
Mal tem forças para mexer a ramagem.
Traga de volta a esperança, a fé e a coragem.



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domingo, 23 de outubro de 2011

O Algibe


Pensamento inapropriado plantado na mente por um ser escuro desconhecido pela sociedade.
Desconcerto sinfônico na queda do véu de um anjo noturno sem missão aparente.
Conversão em espinho envenenado com vingança ao desarraigar um estado de comodidade.
Tudo tem explicação quando ela caminha nas noites, tranqüilamente,
Buscando uma vítima que possa saciar a sede que gostaria de estancar por toda eternidade.


 

As ruas se fazem escuras ao seu caminhar lento
E o calafrio é uma sensação generalizada por onde ela passa.
Assim narra qualquer alma que se digne a cruzar com esse elemento.
Seus passos são firmes porem suaves e com graça.
 
Suas mãos acompanham cada movimento
Que seu corpo realiza ao andar
Em busca daquele que esteja disposto no momento
A conhecer essa estranha criatura sem par.
 
Seu vestido de rendas negras e tule verdete
É tecido com fios de pesadelos inconclusos
E leva um bordado na altura do corpete
Com os nomes de cada uma das suas vitimas inclusos.
 
A maquiagem escorrida é parte de seu encanto,
Mas pobre daquele que se anime a olhar fixo em seus olhos
Que escondem a sombra da morte em cada canto.
Fazendo o suor brotar gelado em todos os poros.
 
Dizem que seus lábios se assemelham ao veludo vermelho carmim
E que foram pintados com um beijo do próprio Satanás.
Também falam de seu fiel companheiro nos passeios noturnos sem fim.
Um gato negro que segue cada pegada que sua amada dona deixa para traz.
 
Caminha com calma e observa com jeito
Cada ente corado de vida, dignos ou indignos.
Inclina a cabeça sobre seu ombro direito,
Sorri com maldade e estreita seus olhos malignos.
 
A caçada começa e ela escolhe uma vitima com esmeros.
Um homem que enfrenta um destino de flagelos
E agora se sente atraído pelos espíritos escuros.
De face e físico absolutamente belos
Que a fazem desejar brincadeiras com gemidos e sussurros
 
Se acerca dele com muito cuidado,
Caminhando ao seu lado durante um par de passos
E deixa cair seu pingente pesado,
Um diamante negro com ouro forjado em laços.
 
Rapidamente ele se inclina para apanhar a jóia
E se perde nas pernas daquela mulher de pele pálida
Ele sobe lentamente pego na tramóia,
Roçando ternamente as frias mãos dela com a sua cálida.
 
Ele tenta ante tanta beleza controlar-se,
Mas não consegue emitir som algum em rubor.
Gagueja toscamente para apresentar-se,
Mas ela cala seus lábios com um dedo indicador.
 
Ele se deixa levar até uma galeria a muito abandonada.
Ela tapa seus olhos com uma venda
E sussurra palavras inaudíveis que deixam a pele dele arrepiada.
 
Ela invoca sua existência maligna e convida desta vez uma menina
Para que observe aquele ato que esta por cometer.
Le indica que se mantenha em silencio e sorri com maldade ferina,
E a criança maldita fica quieta a obedecer.
 
Dando-lhe as costas ela se senta nas pernas de sua vitima
E coloca as mãos dele embaixo daquelas capas de tule profano.
Sente que ele aperta sua carne e se estremece numa onda legitima.
Se deixa levar e seus gemidos provocam a excitação total do humano.
 
Sua cadeira se contorce para traz e para frente,
Sentindo o prazer que quase a leva ao orgasmo.
Gira sobre si mesma dando meia volta e o observa calmamente,
Recuperando a noção do tempo e de sua missão com entusiasmo.
 
Com fúria e apetite voraz, crava seus caninos afiados no pescoço da vítima,
Saboreando cada gota de sangue que tenta de sua boca escapar.
Sem dar-lhe tempo de reagir, absorve com delicadeza aquela alma,
Que logo mais será parte de seu diabólico altar.
 
………………………………………
 
Ninguém ante seus encantos pode resistir.
Ninguém sabe como enfrentá-la nem como tratá-la.
Seu nome real ninguém foi capaz de descobrir.
Princesa da Escuridão é a alcunha que a muito se fala.

Todos só sabem que em noites de lua cheia o de eclipses lunares,
Ela sai a caçar e não ha alma que possa ser salva, em todos os lugares.
 
…………………………….
 
Um corpo. Um cadáver. Um pedaço de carne sem vida.
Vermes e fungos nauseabundos em carne apodrecida.
Um algibe que esconde os lamentos de uma alma perdida.
 
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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Feitiço do Verão

O vento norte de final de primavera.
Flores de ipê amarelo do alto da serra.
Da jataí o mel feito de flores de laranja-pêra.
Da chuva o cheiro molhado de terra.
 
O orvalho da última manhã fria.
O perfume da primeira flor de orquídea.
Uma bela e animada melodia.
Uma máscula face adonídea.
 
A força do galope de uma manada.
O calor do forno que assou um pão.
Do vento oeste, apenas uma rajada.
Um grão de ouro de aluvião.
 
O azul da geleira mais profunda.
Uma folha de comigo ninguém pode.
O suspiro úmido de uma fera fecunda.
A vida de uma semente quando eclode.
 
A luz de um raio de tempestade.
A ardência de uma folha de urtiga.
O vigor e a energia da mocidade.
A teimosia de uma formiga.
 
Misture tudo no olho de um redemoinho,
Medindo as porções com a precisão de um pajé.
Mecha com a colher do amor e do carinho,
E deixe ferver sobre as chamas de sua fé.

domingo, 16 de outubro de 2011

Onde é que eu ponho a pedra?

Hoje eu vou contar outra história de Vovó Teotônia.
A história de um fantasma sem nenhuma cerimônia.
 
Diz à tradição que as terras que hoje formam Aguaí
Eram chamadas pelas bandeiras de Capão do Cascavel
Duas famílias em mil e setecentos vieram morar ali,
Em Mogi Mirim elas dividiram as terras no papel.
 
Uma delas era a família Alves e a outra era Tangerino.
Suas origens foram esquecidas com o passar do tempo
E os nomes destas pessoas todas eu não sei e sequer imagino.
Estão escondidos debaixo da poeira do esquecimento
 
Naquele tempo longas cercas como hoje não se fazia,
E as terras não eram divididas com a precisão de agora.
Para limitar território se usava o que a natureza oferecia,
Árvores, morros, pedras e rios eram “os marcos” de outrora.
 
Dizem que depois de passados quase dois séculos
Surgiu naquelas bandas um tal Compadre Tangerino.
Especula-se que com aquelas famílias ele tinha vínculos.
E de todas aquelas terras ele herdou um bocado pequenino.
 
Esse Compadre Tangerino se julgava muito esperto
E resolveu de suas terras o tamanho aumentar.
Começou de forma discreta em momento incerto
A mover “os marcos” não fixos e mais leves de lugar.
 
No começo foram apenas alguns passos,
E ninguém apareceu para as perdas reclamar.
Então a cobiça suplantou os medos escassos,
E o tamanho do roubo começou a aumentar.
 
Um desses marcos era um grande granito alísio,
Que marcava a divisa com as terras dos Rosas.
Nestas terras Seu Procópio Rosa fazia rodízio,
Em um ano plantava milho e no outro, leguminosas.
 
Então na manhã de um belo dia de plantio
Depois de trabalhar por várias horas.
Um escravo chegou à sede do sítio
Avisando Seu Procópio que havia sobras.
 
Mas como foi que sobraram sementes de milho,
Se todos os anos plantamos a mesma quantia?
Ou os escravos erraram a largura do trilho,
Ou entre as plantas maior distância havia.
 
Mas o escravo por Deus jurou
Que nada disso havia acontecido
Seu Procópio os arreios juntou
E foi a cavalo ver o ocorrido.
 
E lá chegando logo percebeu
O que acontecera de errado.
Foi o tamanho da roça que encolheu
Para as sementes de milho ter sobrado.
 
Seu Procópio montou no cavalo novamente,
E foi rodeando as terras do Compadre Tangerino.
Anotou tudo o que viu de errado e de diferente,
E depois procurou os vizinhos do fazendeiro ladino.
 
No amanhecer do dia seguinte
Quando Tangerino saía cedo para a lida
Viu chegando um mundaréu de gente
E percebeu que fugir era a única saída.

Seu cavalo mais veloz ele montou
E saiu em disparada pelo pasto.
Mas Procópio viu o rumo que ele tomou   
E pós toda a tropa no seu rasto.
 
Enquanto açoitava a montaria
Tangerino aos gritos da tropa ouvia:
Você moveu todas as pedras,
Volta aqui ladrão de terras.
 
E naquela correria desenfreada
O cavalo pisou em um formigueiro
O solo cedeu com o peso da passada
E o animal capotou com o cavaleiro.
 
Na queda, Tangerino quebrou o pescoço
Direto nos braços da morte ele caiu.
E os homens que formaram o alvoroço,
Só puderam rezar por aquele que partiu.
 
Uma semana após o enterro do ladrão
Um escravo procurou Seu Procópio
E foi falando de supetão:
Sumiu na divisa o grande granito alísio.
 
Seu Procópio naquele roçado voltou
Para ver de perto o ocorrido.
Da grande pedra nada sobrou
Só se via no solo o buraco varrido.
 
E conforme os dias foram passando
Os viajantes começaram a contar.
Sobre um andarilho que pelas estradas esta perambulando.
Nas noites frias com nevoa e luar.
 
Sua cabeça pende do corpo de forma estranha
E uma grande pedra nas costa ela esta sempre a carregar.
Na distância pode se ouvir um lamento em voz fanha:
Onde é que eu ponho a pedra? Ele esta sempre a perguntar.
 
Vovó Teotônia me disse que durante sessenta anos
Pelas estradas de Aguaí essa alma perambulou.
E que ela fora libertada fazia apenas cinco anos,
Mas essa parte da história só depois vovó me contou.
 
 
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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Momento de paixão


Dou-te um beijo lento e molhado na boca, levemente.
Minhas mãos percorrem o teu corpo, suaves feito brisa.  
O fogo da paixão ascende e cresce lentamente
Corre pela pele formigando como estática que eletriza.
A pressão entre nossos lábios aumenta, é inevitável.
Minha boca desce e encontra teu pescoço quente e macio.
Primeiro te toco com os lábios já molhados, a pele excitável.
Depois lhe roço os dentes e levemente com a língua, acaricio.
 
Sinto a pele em teu pescoço arrepiar,
E o prazer pelo seu corpo a percorrer.
Ele chega até sua boca buscando ar,
Que é sugado por entre os dentes a tremer.
 
Já não há o que nos faça nossos corpos separar,
A atração está no ar e em nossas peles ardentes.
O tempo para e o mundo lá fora esta a se distanciar,
Nada mais importa a não serem os desejos pungentes.

Os beijos se prolongam e nos fazem viajar
Torna inesquecível esse momento sem juízo.
Dou-te outro beijo no pescoço que te faz arrepiar,
Será que estamos no ar, no mar ou no paraíso?
Não, nos ainda estamos no mesmo lugar.
Mas que importância tem onde estamos,
Se com esses beijos nos podemos viajar,
Com apenas um beijo ao infinito chegamos.
 
Hoje eu quero apenas em um único lugar estar,
Quero apenas estar onde eu possa te amar.
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domingo, 9 de outubro de 2011

Pequena Oração pelo Brasil



Nossa Senhora da Conceição Aparecida,
Mãe Rainha do Brasil és padroeira.
Peça ao seu filho Jesus, que lhe seja permitida
Dar a esta Nação uma benção derradeira.

Cubra nosso país de norte a sul com seu sagrado manto
Tirando do seio deste povo todo o mal, todo medo e toda ignorância.
Coloque nos caminhos desta Nação, em cada recanto,
Tudo aquilo que a Senhora achar que é nosso, na medida importância.
 

Amém



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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Possessão

Acordei assustado no meio da noite
Com uma sensação esquisita
Como se tivesse recebido um açoite
De uma chibata inaudita.

Quis então me mover
Mas ai surgiu o horror.
Eu não pude me mexer
Era muito assustador.

Procurei sentir meus membros
Mas não percebi nenhuma amarra.
Dedos, pés, pescoço e ombros,
Fixos na cama de uma forma bizarra.

Então tentei com força gritar
Mas não consegui mexer os lábios.
Eu podia apenas sussurrar
Por entre os dentes serrados.

Foi então que vi uma pessoa estranha,
Que sobre o guarda-roupa estava sentada.
E julguei que essa bizarra artimanha,
Deve ter sido por ela orquestrada.

Mas como ela entrou em minha casa?
E como tudo em volta eu enxergava?
A lâmpada no teto não estava acesa,
Mas uma luz pálida a tudo clareava.

O estranho estava sentado
Abraçando as próprias pernas.
O queixo nos joelhos apoiado,
Olhos escuros como duas cisternas.

Quanto mais força eu fazia
Maior ficava o meu terror.
Mas nem um dedo eu mexia,
Meu corpo continuava em torpor.

Então o estranho se mexeu.
De quatro ele andou.
E nessa posição do móvel desceu,
A gravidade ele desafiou.

Eu olhava completamente apavorado
Para aquela manobra impossível.
Com meu coração disparado
E o corpo preso pelo invisível.
  
E conforme ele descia
Eu já não mais podia vê-lo.
Foram minutos de agonia,
Vivendo esse pesadelo.

Então aos pés da minha cama
A cabeça da criatura brotou.
E com uma mão fria como lama,
Minha canela esquerda ele pegou.

Depois também à direita ele prendeu,
E sobre minhas pernas se apoiou.
Fazendo força o quadril ele ergueu
E os joelhos sobre a cama colocou.

Mais uma vez andando de quatro
Sobre meu corpo ele foi avançando.
Eu implorava a Deus o fim deste teatro,
Mas nem parecia que eu estava orando.

Quando ele chegou à altura de meu peito,
Com as mãos segurou meus pulsos e sorriu.
E após esse insano e macabro feito,
Minha boca sem meu controle se abriu.

Neste ponto meu pânico era total,
Meu coração batia em meus ouvidos.
Mas apesar do esforço descomunal,
Meus comandos ao corpo não eram obedecidos.

Então a cena a muito bizarra,
Ultrapassou do absurdo o limite.
A criatura abriu uma imensa bocarra,
E foi soltando uma nevoa grafite.

A nevoa deixou a face da criatura encoberta,
Ao Desenhar uma perfeita espiral no ar.
Depois apontou para minha boca aberta
E começou lentamente a baixar.

uando já estava perdendo a esperança,

Vendo aquela nevoa macabra avançar.
Senti no queixo um toque macio, mas com força,
Que lentamente, fez minha boca fechar.

A assim que minha boca se fechou
Uma forte luz branca surgiu.
Que por um momento me cegou
E meu corpo finalmente reagiu.

Eu saltei da cama em desespero,
E comecei finalmente a gritar.
Mas alguém me sacudia por inteiro,
E falava em voz baixa para me acalmar.

Percebi então que a luz estava acesa,
E que minha mãe pelos ombros me segurava.
E ela falava baixo, mas com muita certeza,
Que tive um pesadelo enquanto roncava.

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domingo, 2 de outubro de 2011

Desejos Acumulados



Vejo meu reflexo em teus olhos.
Duas gotas espelhadas demonstrando amor.
Minha vida passa neles em segundos.
Vejo também que seu coração já sentiu dor.


Posso ver seus sorrisos escondidos.
Teus desejos perdidos e as suplicas.
Vejo os amores não correspondidos.
Mas te vejo agora plena de esperanças.


Perco-me e queimo ao mirar nos olhos seus.
Enquanto tu me olhas fixamente.
Eu mordo meus lábios e tu brincas com os dedos nos teus.
Olhamo-nos e sorrimos timidamente.

Voltamos há ter quinze anos, eternos adolescentes.
Passam os minutos e os desejos aumentam.
O ar adensa-se, pleno de luxurias e medos ascendentes.
Cobiçam a carne e ao sexo acalentam.

Tenho-me quente, excitado.
Sei-te molhada, tua pele ferve.
E cada minuto passa demorado.
Regado ao vinho que nos serve.

Damos voltas, bebemos depressa.
As taças vazias de vinho marcam o final.
Este é o momento da decisão inconfessa.
Vamos agora ou seguimos numa dissimulação banal.

Acerco-te com doçura e te beijo o pescoço.
E tua pele responde arrepiando-se.
Acaricio sua face e tuas espáduas, com as mãos, roço.
Verga-te e a meus desejos entrega-se.

Pausa. Afasta-me e refletes. Deves ou não continuar?
Abrimos um jogo e desfrutamos, ou negamos o que a realidade pode trazer?
Depois de algum tempo a pensar, volta a nos observar.
É incrível essa sensação que provocas no meu ser.

Decides e pede-me para sairmos a caminhar
Esta noite esta convidativa para passearmos.
As estrelas nos acompanham no céu a bailar.
Como duas crianças, brincamos e nos empurramos.

Os desejos nos espreitam.
Sua sombra e a minha vão abraçadas.
Roço-te os braços, caricias que te excitam.
Seguimos sem rumo, de mãos dadas.

Mas estamos nos encaminhando para minha casa.
Eu sei. Sorrio. E tu também, com timidez.
Sinto tanto tua pele quanto a minha em brasa.
Desfrutamos o passeio, mas com rapidez.

Teus olhos e teu corpo se transformam.
Somos duas feras selvagens no cio.
O trajeto se faz eterno. Os passos se alongam.
O calor se enraíza em nossos corpos, apesar do frio.

Um paço, dois, um toque, as peles arrepiadas.
Pensas, me olhas, te observo. Isto é insanamente intolerável.
Três passos, um corredor, duas escadas.
Uma porta e as chaves que ressoam num girar infindável.

Tuas mãos passeiam caprichosamente em minha espádua.
Apóias teu corpo no meu e me abraça forte, mas com ternura.
Poço sentir-te, quente, no cio, excitada, se querendo nua.
Minhas mãos percorrem teu rosto suave com doçura.

Quatro pés caminhando trôpegos até o quarto.
Caem objetos, que toscamente enfeitam com sons a cena.
E tu paras. Outra pausa para reflexão e quase infarto.
Fico paralisado enquanto minha mente se reordena.

Para ver mensagens, teu celular tu buscas.
Buscas desculpas para não consumir-te em meus beijos.
Para não cair rendida em minha luxuria, desculpas tu buscas.
E te aproximas para me perguntar algo sem afagos.

Tarde demais. Num único movimento te empurro à cama e caímos juntos.
Estou em cima de ti e meus lábios se apegam em tua boca caramelada.
Os desejos se espargem em meus lençóis de seda e cetim pretos.
Teu corpo e o meu fazendo contraste pela paixão desatada.

Os beijos são suaves pétalas de rosas que flutuam descaradamente.
As caricias abrem jogo a nossas mentes excitadas e ansiosas de prazer.
Uma carícia, duas, mil delas impregnadas de amor pungente.
Meia hora e meu sexo investindo em teu corpo a tremer.

Primeiro suave, devagar, muito lenta.
Teus gemidos se aninham em meus ouvidos.
Sentir-me dentro de ti, quente, te encanta.
Tu te estremeces inundando meus sentidos.

Tuas pernas tremem, entrega-te qual virgem a um sacrifício.
Um, dois, e baixo-me até teu sexo quente, úmido, elixir de meu desejo.
Minha língua passeia em ti resvalando como tobogã em cada orifício.
Estou te excitando tanto que não te agüentas até o lampejo.

Explodes em meus lábios, em minha língua e gostas.
Queres teu sabor, queres que sejamos um.
Três caricias, e tuas unhas se encravam em minhas costas.
Teus gemidos ecoam pelo quarto, sem rumo algum.

Somos um meu amor. És minha. Sou teu.
E me pedes que te penetre selvagemente.
Teus olhos e tua pele eriçada expressam – és meu.
Olho-te e sussurro palavras de amor e paixão ardente.

Perdemo-nos. Somos um meu amor.
Assim é; hoje e para sempre deve ser assim.
Por que resistimos? Só trará dor.
Por que não viver os desejos dia a dia até o fim?

Sigo assim, possuindo-te qual fera selvagem.
Entrega-te ao prazer e limpe sua mente
Tuas pernas se enredam em minhas costas e tremem.
Teu corpo se arqueia. O suor se faz presente.

Sim, queres mais.
Assim, molhados, quentes, selvagens, primitivos.
Sim, dou-te mais.
E chega o momento de tocar o céu, convulsivos.

Teu corpo treme ao sentir meus jatos quentes em teu ser.
E sinto-te por dentro, quente, excitada, vibrante, latejante.
Sim. Isto é paixão. É amor. É o que ambos estamos a querer
Não vá julgar-nos. Queira dormir em meus braços, somente.
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