quinta-feira, 28 de maio de 2015

Tempestade e Penedo

A minha solidão se arrasta
Entre estas tristes melodias
Na escuridão de noites frias
Sem nunca saber onde está

Dissecando cada lembrança
Bebendo o fel de cada detalhe
E em cada gole surge um entalhe
Em meu coração sem esperança

Sinto saudades do mar aberto
De ter a luz do sol a me queimar
Poder encher meus pulmões de ar
Com cheiro de sal sempre perto

Mas já não posso mais navegar
Pois não só a quilha foi partida
Minha alma também foi perdida
Naquela última noite sem luar

E você foi a tempestade
E também o penedo
Que plantou o medo
E afogou a felicidade



quarta-feira, 27 de maio de 2015

Um Mau Rapaz

Ó meu Pai
Não dá mais para segurar
Ela me desdenha com o olhar

Ó meu Deus
Ela faz pouco de meu amor
Me maltratando sem pudor

Então eu te peço
Depois te confesso
Vou ser um mau rapaz

Ao menos uma vez
Para pôr um fim na insensatez
De todo o mal que ela me faz

Permita-me Deus
Esquecer os conselhos teus
E ser um mau rapaz

Apenas uma vez
Para devolver o mal que ela fez
Pois só assim eu terei paz




domingo, 24 de maio de 2015

Encontro ao Acaso



























Está tudo bem com você?

Palavras jogadas aos meus pés
Por alguém que pensei não mais ver
Nossos olhares mantidos em viés
Disse sim, sem saber o que dizer

E com você, tudo bem?

Palavras recolhidas do chão
E devolvidas em supetão
Sobre o que eu não queria saber
Que não tinham razão de ser

E uma resposta brotou
Com explicações vazias
Palavras metálicas e frias
Que nada em mim afetou

Não percebes que nada restou?
Que já não há mais o que dizer?
Que nosso tempo já passou?
Que não estou mais a sofrer?

E seguiram-se mais palavras vazias
Tão frias quanto a manhã de domingo
Sobre fatos que não tem mais valias
Um sentimento que não mais distingo




quarta-feira, 20 de maio de 2015

Silencioso Fim



Entre as velhas paredes silenciosas
De um castelo ruindo em lembranças
Em um tempo sedento por mudanças
Meu escuro eu passa horas ociosas

Sinto que estou a desaparecer
Para a morte daria boas vindas
Reunindo as estrelas mais lindas
Para um castelo de areia fazer

E nele entoaria uma suave prece
Ouvindo os passos da ceifeira
Aceitando a emboscada certeira
Que põe fim em tudo que padece

E as areias voltarão a escorrer
Neste tempo sedento por mudanças
Em um castelo ruindo em lembranças
Onde as estrelas irão desaparecer  



sábado, 16 de maio de 2015

Pequena Alice


Como tu vais, minha pequena Alice?
Vejo sonhos em teus olhos de vidro
Que almejas com esta tua meiguice?

Onde tu vais, minha pequena Alice?
Te vejo perdida dentro de tua mente
Sem revelar o que realmente sente

Olhe em teu peito, pequena Alice
Teu coração partido está jorrando
E as memórias na fenda gritando:
Conserte-o, conserte-o, cara Alice

Mas tu não respondes ó pequena
Continuas perdida na tua meiguice
Olhando só para dentro, serena
Os olhos de vidro da minha Alice


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Olhar Frio

Teu frio olhar congela meu espírito
Uma força nascida de um coração partido
Que repele todo e qualquer ato solícito
Declarando todo um futuro por perdido

Onde está a chave do teu coração
Onde foi que perdeste teu sorriso
O teu passado não é uma prisão
O mundo é belo, mas não o paraíso

Não se prenda ao sofrimento
Nem fique agarrada nessa dor
Deixe o tempo trazer o alento
Deixe a vida reacender o amor

Veja a ternura em meu olhar
Sinta o calor da minha pele
Tudo que quero é te cuidar
Mas teu frio olhar me repele


sábado, 9 de maio de 2015

Acordes Escuros

Olhando para o céu através das janelas
Sinto os acordes retorcidos da noite escura
Obscurecendo todo o brilho das estrelas
Favorecendo todos os medos e a loucura

Como foi que cheguei em casa ontem?
Sei apenas que o meu corpo está aqui
Sem a menor lembrança de tudo que vivi
Este desconfortável cenário nada contém

Pensei que agora estaria próximo do fim
Mas algo ainda me faz querer prosseguir
E a morte se faz invisível feito arlequim
Fazendo-me crer que ainda posso fugir

Eu levanto agora os meus olhos negros
Crendo que esta luz nasceu porque eu a vi
Neste mundo pintado com cores que escolhi
Abafando esta noite de escuros alegros



quarta-feira, 6 de maio de 2015

Amor Perdido



Sim, eu sei que você se foi
Sinto o seu toque da minha pele desaparecer
Sim, eu sei que você se foi
Sinto a paisagem que eu vi contigo esmaecer

Me entreguei totalmente a ti
Por sua delicadeza e bondade
Mas só agora eu compreendi
Que não existe a tal eternidade

Sei que meu nome é chamado por tua voz
Mas quem te ouve é o meu coração
Além da porta fechada pelo destino atroz
E só a morte quebrará essa solidão   



sexta-feira, 1 de maio de 2015

O Morto Andante


Por entre estas ruas descoloridas
Somente a minha sombra domina
Numa caminhada profana e indigna
As demais pelo luar são corrompidas

O sol vagueia no horizonte
Buscando pela primavera
E o mundo se desespera
Tendo o frio em seu fronte

O vento é uma mortal carícia
Carregada de dor e solidão
Que traz o sono da perdição
Para os que não tem perícia

Mas em meu peito morreu a morte
Então percorro a noite sem medo
Pois o terror sou eu que concedo
Para aqueles que abusam da sorte