quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Tempo de Mudanças


Grandes vagalhões estão chegando
Podemos sentir suas vibrações de longe.
É o sinal de que o mundo esta mudando
Com a determinação de um monge.

Nada podemos fazer para impedir
Não há contramedidas para tomar
Só podemos com ele evoluir
Temos que a ele nos adaptar.

O que era certo ficou incerto
Em vez de clareza, sobram dúvidas.
O que funcionava hoje não tem concerto
E a hesitação provoca grandes feridas.

Onde havia paz, reina a rebelião.
O caos impera onde tinha ordem.
Os povos clamam por mais proteção,
E as organizações por liquidez pedem.

Os economistas estão perdidos
Mas de suas teses eles não desistem.
E os políticos estão a muito vendidos
Aos interesses daqueles que mais tem.

Assim caminha toda a humanidade
Ao buraco cada vez mais perto.
Pela inação dos que vivem na temeridade
E pela ação de quem se julga mais esperto.   

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domingo, 25 de setembro de 2011

Abduzido


Eu ouço passos lá fora sobre as folhas caídas
E de repente o pânico toma conta de mim
Sons sinistros que rasgam o silêncio sem medidas
E eu trancado aqui numa paralisia sem fim

Estou entre minhas coisas amadas
Livros, discos, moveis e pinturas.
Os passos agora soam nas sacadas
E são forçadas todas as fechaduras


Nenhum dos meus amigos seria tão impaciente
E eles não ousariam vir aqui nesta hora.
Mas gostaria que fosse um deles ao meu batente.

Assim não estaria vivendo esse pânico agora.

Eu os ouço movendo-se cada vez mais perto,

Sons abafados que vêm pela porta da frente.
Sinto que enlouqueço e algumas lagrimas eu verto.
Suas vozes são uma cacofonia demente


Aumentado o nervosismo, estou perto de desfalecer
Eles devem saber agora que eu estou aqui tremendo
Em um terror geral, meu mundo inteiro por desfazer
Não há escapatória agora e estou enlouquecendo.

Estas paredes novas testemunham agora toda a angústia e terror
Elas viram antes brilhar em meu rosto a esperança de liberdade
Mas agora eles me reencontraram e volto a viver esse horror
Irão me levar e ainda assim não é inesperada essa monstruosidade

 
Deus me ajude. Tenho esperado por estes visitantes.
Eu os ouço movendo-se cada vez mais perto.
Sinto que enlouqueço enquanto crescem as vozes destoantes

Entremeio o som do trinco da porta sendo aberto.

Agora eu os ouço movendo-se, sons abafados.
Eles vêm pela porta. São cinza e esqueléticos.
Cabeças enormes com olhos negros ovalados.
Meu mundo esta caindo, meus nervos estáticos.

Deus me ajude. Tenho esperado por estes visitantes.
Suas mãos de três dedos me pegam com forte aperto.

Sinto que enlouqueço enquanto crescem as vozes destoantes
Não há como escapar agora e meu destino é incerto.

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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O Sonhar


Cheguei às belas praias do limiar
Onde as areias são sempre frescas;
E os grãos são passiveis de contar
São belas praias brancas e pitorescas.

Esta é a borda do Sonhar
Aqui o mar é azul e profundo.
Mas não tem água nesse mar
Ele é feito das quimeras do mundo.

Muitas são as ilhas que existem neste mar
Cada uma é o sonho de um ser que vive ou viveu.
Mas na maioria delas você não pode pisar
Somente naquelas cujo sonhador já morreu.

E no fundo deste vasto mar
Existe um suntuoso castelo.
Ele é a morada do deus do Sonhar
E em nenhum mundo há paralelo.

Neste castelo existem vários portais
Alguns são de chifres e outros de marfim
Nos primeiros só passam sonhos reais
Nos outros transitam mentiras sem fim.

Ele é guardado por três fieis servos
Um dragão, um grifo e um cavalo alado.
Sua biblioteca tem milhares de acervos,
Mas nenhum dos livros fora escrito ou grafado.

Você também quer visitar o sonhar?
Pois é muito fácil realizar essa viagem.
Bastam apenas seus olhos com sono fechar
E a imaginação é sua única bagagem.

domingo, 18 de setembro de 2011

O Saci

Dizem que quem conta um conto,
Acaba aumentando um ponto.
Mas neste não vou o dedo meter,
Vou tentar o mais fiel manter.

Quem me contou foi minha bisavó,
Mãe do meu avô materno era ela.
Ela viveu em um sitio bem num cafundó,
Em Aguaí, no vale do rio Itupeva.

Contou-me Vovó Teotônia,
Esse era o nome dela.
Que numa noite de insônia,
Viu coisa que a alma gela.

Era daquelas noites de lua cheia
Que quase tudo clareava.
Quando a luz tudo permeia
Até mesmo sombra formava.

Sem sono, de sua cama ela deixou
E foi procurar algum serviço
Uma costura inacabada ela pegou
E passou varias horas nisso.

Já era começo de madrugada
No sitio do rio Itupeva
Quando os cavalos em cavalgada
Chamaram a atenção dela.

Ela largou suas costuras
E foi silenciosa até a janela.
Olhando pelas aberturas,
Com uma dose de cautela.

Viu que os cavalos galopavam,
Para o outro extremo da hibernada.
Mantendo-se distantes eles estavam,
Da onde ela fizera sua morada.

E neste momento passou a ouvir
Que outros bichos urravam assustados.
Até mesmo os cães começaram a latir
Correndo no terreiro para todos os lados.

Diante de tanta confusão
Vovó começou a pensar.
E chegou numa conclusão:
Deve ter onça no pomar.

Vovó estava num anexo
Que de pau-a-pique era construído.
Local inseguro e de fácil acesso
Para um visitante tão feroz e atrevido.

Ela abandonou sua vigia na janela
Visando para dentro de casa voltar.
Mas para surpresa e espanto dela
A visita já estava na porta a esperar.

Um jovem negro era o visitante
Que sentara calmamente na soleira.
Dono de um olhar penetrante
Ele fumava um pito de madeira.

Apenas duas peças vermelhas ele vestia
Um gorro sujo e uma bermuda surrada.
Em seu corpo apenas uma perna existia
Mas não parecia uma figura aleijada.

Vovó, mulher católica de fé,
Diante de tamanha assombração
Postou-se firmemente em pé,
Com seu terço na direita mão.

O jovem sorriu e ficou em pé
Um redemoinho formou-se em sua volta.
Teotônia manteve-se firme em sua fé
E começou a orar em voz alta.

Valha-me Nossa Senhora Aparecida
Pelas cinco chagas de seu Filho Jesus Cristo.
Fazei de minha fé uma couraça enrijecida,
Para que eu possa resistir ao ataque disto.

O redemoinho então encorpara
E tudo voava com desenvoltura.
Mas o ar a volta de vovó congelara
E nada atingia sua séria figura.

A peleja parecia que empatava
No meio daquela arruaça.
Mas vovó novamente orava,
Pedindo mais uma graça.

Se você é o ferro, eu sou o aço.
Se você é o demônio eu sou o embaraço.

São Benedito, São Bento, água benta,
Santo Antonio no altar
Dê-me Senhora a força para vencer esta contenta
Dentro de meu sagrado lar.

E vovó num ato de fé e coragem,
Jogou seu terço sobre o negrinho.
Que soltou um assovio selvagem
E desapareceu junto com o redemoinho.

E tudo que voava caiu ao chão
O silencio se fez por todo lugar
Vovó olhou em volta com emoção,
E pôs os joelhos em terra a rezar.

Ela orou agradecendo a Nossa Senhora
Pelos dons que recebera naquela hora
Fez o sinal da cruz três vezes ao terminar
E teve uma surpresa agradável ao seu olhar.

Diante dela cuidadosamente colocado,
Estava o terço que ela havia arremessado.
Com as faces de Jesus e Maria para cima,
E cada conta agora brilhava feito prisma.

Vovó pegou seu terço e o guardou.
De novo em pé para a janela voltou.
Viu que os cavalos retornavam mansamente,
E que o sono lhe chegara finalmente.
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domingo, 11 de setembro de 2011

Amiga Fiel


A primeira vez que na vida eu a vi
Foi nas mãos do proprietário do canil.
Os pelos mais macios que já senti
Nas cores branca, preta, marrom e um cinza sutil.

Seus olhos com um lindo tom de azul
No direito uma pequena gota de mel.
O nariz gelado como o vento sul
Na face, a promessa de ser uma amiga fiel.

Quatro meses de vida ela tinha
Quando veio conosco morar.
Em um momento triste ela vinha
Para trazer alegria ao nosso lar.

Aprendera em apenas uma semana
Onde fazer suas necessidades.
De uma sagaz esperteza era dona
Obediente, com muitas habilidades.

A chegada de alguém de casa
Para uma festa é sempre motivo.
A sua energia ela extravasa
Com caminhadas de focinho altivo.

Se alguém se põe a chorar
Ela avança com seu longo focinho.
As lágrimas ela não deixa rolar
Lambe uma a uma com carinho.

Na cidade todos conhecem
A bela e dócil Collie Azul.
Ela e seus donos amanhecem
Caminhando de norte a sul.

Linda, bela, princesa, raposa.
De muitas formas ela é chamada.
Poucos sabem que essa beleza,
Com o nome Judy fora batizada.

Catorze anos nós já passamos
Com sua doce meiguice.
Ela sabe o quanto a amamos

Em sua tranqüila velhice.

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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Perseverança


Eu estou sendo arrastado por esse lugar.
Como as pessoas acham que eu me atino?
Como elas conseguem não se afogar,
No tempestuoso e traiçoeiro mar do destino?

Eu não posso fracassar por isso com força grito.
Para ser eu mesmo até a morte abrasadora.
Mesmo que eu me perca no amanhã infinito.
Jamais perderei para o imperdoável agora.

Eu estou sendo arrastado por esse lugar.
Como as pessoas acham que eu me atino?
Como elas buscam não se desesperar,
No desventurado e ardiloso mar do destino?

Tenho que fazer minha voz ser ouvida.
Eu não paro de correr atrás da sorte.
Sempre que eu a persigo, foge a bandida.
Os segundos voam como vento forte.

Eu estou sendo arrastado por esse lugar.
Como as pessoas acham que eu me atino?
Como elas procuram não se afundar,
No golpeador e aflitivo mar do destino?

Quero alcançar o outro lado invisível ainda.
Para o qual eu sempre estico a minha mão.
Dos dias em que eu vivi e chorei na berlinda.
Aos mais distantes limites do destino ancião.

Eu estou sendo arrastado por esse lugar.
Como as pessoas acham que eu me atino?
Como elas podem não se acovardar,
No poderoso e feroz mar do destino?

Vou transformar as trevas em vigorosas asas,
E pouco a pouco, me erguer ao infinito.
Continuarei avançando mesmo sobre brasas,
Em busca de tudo o que quero e acredito.

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domingo, 4 de setembro de 2011

Independência ou Morte?


Uma vez mais comemoramos
O dia de nossa independência.
Mas quase todos nós não enxergamos
O quão é frágil a sua existência.

Nossas fronteiras sofrem de abandono,
Drogas e armas entram livremente.
Nossa flora e fauna saem sem dono,
E no exterior ganham registros de patente.
 
Nossa língua perde cada dia mais a sua essência
Quando adotamos nomes e siglas estrangeiras.
Por que nossa mídia aceita tanta influência
Importando imensas e numerosas asneiras?

Independência se constrói com identidade.
O povo é que forma a base de uma nação
Povo só é povo se tem laços de originalidade,
Dividindo crenças, leis, língua e tradição.

Nossas escolas não formão mais o cidadão.
Nossas cadeias não recuperam mais os meliantes.
Nossos políticos não promovem mais nossa integração
Nosso Estado não tem como se defender de nações beligerantes.

Somos mesmos independentes?
Ainda somos uma nação forte?
Ou caminhamos negligentes,
Para nossa própria morte?     

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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Vida Vazia


Estou agora nessa minha vida vazia, vivendo de passado,
Só me lembro de você agarrada em mim.
Sempre deixando um fio de cabelo no meu ombro colado,
Aquele fruto especial de cor carmim.

Eu só sei te amar, mas você passou da conta,
Quando me deixou sozinho naquele feriado nacional.
Fiquei triste, chorei e dormi na praça, que afronta.
Acabei sonhando com àquelas 24horas de amor casual.

Acorrentado em ti e sempre querendo mais, meu favo de mel,
Mas acabei acordando com os raios de sol tocando minha face,
E vi que a realidade era outra quando olhei o azul do céu
Então nesta noite eu queria que o mundo acabasse.

Agora estou nessa minha vida vazia, vivendo de passado,
Pois não quero um programa de fim de semana sozinho, sem você do meu lado.

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