domingo, 14 de agosto de 2011

A Paixão do Arlequim


Estou parado diante da porta
De minha bela Colombina.
Ela se chama Maria Dorta
E trabalha em uma cantina.

Em sua porta prego meu coração
Coração de um Arlequim apaixonado.
Quero que ela saiba de minha paixão
Mas por ninguém posso ser enxergado.

Esta é a maldição do Arlequim.
Só de relance pode ser visto.
Por crianças inocentes no jardim
Ou damas de caráter bem quisto.

Mas nisso esta meu encanto
Pois mil travessuras eu faço
Roubo beijos e saias eu levanto,
Sem alarde ou embaraço.

Bato na porta de minha Colombina
E ela vem prontamente atender.
Ela não enxerga a figura arlequina
Mas meu coração ela vai perceber.

Maria vasculha com os olhos a rua
Mas não vê ninguém nela percorrer.
Vê meu coração pregado na madeira nua
Com meu rubro sangue dele a escorrer.

Maria solta um sorriso encantador
E corre até a sua humilde cozinha.
Pega um prato em seu aparador
E retorna a porta rindo sozinha.

Maria retira o alfinete de meu coração
E o deixa deslizar devagar para o prato.
Volta para a cozinha com muita atenção
Como quem porta um fino artefato.

Ela põe o prato sobre a mesa
E abre uma gaveta de seu aparador
Escolhe garfo e faca de rara beleza
E pega ketchup no refrigerador.

Depois de armado o cenário
Ela se senta na frente do prato.
Eu em pé, encostado num armário
Assisto a inusitada cena, estupefato.

Com graça e muita delicadeza
Maria fatia meu coração.
Acrescenta o molho com leveza
E come porção por porção.

Sinto minhas forças esvaindo
Escorrego pelo armário até o chão.
Maria se levanta da cadeira sorrindo
E olha nos meus olhos com paixão.

Ela rodeia a mesa e chega perto de mim
Em seguida me da um beijo apaixonado.
Suas mãos pegam meu chapéu de Arlequim
E também meu colorido e mágico cajado.

Ela veste meu chapéu e num salto se levanta
Batendo meu cajado mágico com força no chão.
Sua figura ganha um brilho fascinante que encanta
Nas roupas surgem losangos coloridos em profusão.

Maria agora me sorri como Arlequim
Mas sua imagem desaparece como fumaça
E eu fiquei no chão com uma solidão sem fim
Transformado em humano, sem encanto nem graça.


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