Saio pelas ruas à noite, Vendo as luzes de Natal. As lojas repletas de gente E os templos num vazio total. As praças e calçadas
iluminadas, Enquanto os corações estão
escuros. Milhares de pessoas
presenteadas, Mas seus espíritos estão
obscuros. O comercio sobrepujou a fé. O presente substituiu o amor. E o mundo segue essa maré, Mesmo sentindo tanta dor. O Aniversariante foi
esquecido. Seu legado foi abandonado. Esquecemos que Ele é o
infinito E não necessita de nosso
agrado. Nossos atos condenam a nos
mesmos. Em nosso abandono somos os
abandonados. Nossos espíritos cada vez
mais enfermos, Formando uma legião de
condenados. Como pode o rio rejeitar sua
nascente, Sem condenar a sua
existência? Mas é isso que faz o
descrente, Oferecendo a Deus sua
negligência.
Entre encontros e
desencontros Em meio a detalhes e nuanças A vida segue seus meandros Tal qual a água nas
reentrâncias Em cada curva desta descida Existe um momento de dor Mas a dor é sinal de vida Só quem vive sente dor Não lute contra a corrente Não desafie a gravidade Siga ao sabor da vertente Busque sempre a novidade Sinta cada movimento Aproveite todas as ondas Explore cada afloramento Nas calmarias lance sondas Longo parece o percurso Mas é menor do que você imagina Tu entras no meio do decurso E sai de alguma forma
repentina. .
Na passarela sobre a
Anhanguera Recordo-me da ultima vez que
te vi. Era uma manhã fria de
primavera E cantava um solitário
bem-te-vi. Os angicos pareciam geados Devido à profusão de flores. Seus olhos brilhavam
excitados Cheios de novos amores. Eu não tinha a menor
consciência De que ali seria nossa
despedida. No lugar que por
coincidência Conheci você, amor da minha
vida. Tu estavas a minha espera Como sempre naquela manhã, Observando a Via Anhanguera Quentinha em seu cartigã. Cheguei mansamente por trás E te aconcheguei em meus
braços. Fiquei ébrio no prazer que
me traz Estes momentos de entre laços. Você levantou um braço Até minha nuca encontrar. Forçando-me ao seu pescoço Para sua pele eu beijar. E depois deste eterno momento Que durou apenas um segundo, Virou-se num único movimento Olhando-me nos olhos, bem
fundo. Então tu me deste uma
notícia Que eu jamais esperava. E recebi com alegria
factícia Enquanto meu coração parava. Pela Universidade de Coimbra Você fora finalmente convocada. Seus anos de estudos com
fibra Proporcionou-te essa jornada. Seus olhos radiavam alegria Seu rosto denunciava a
emoção. E eu escondi minha agonia E a dor em meu coração. Sempre tivemos plenas noções De nossas muitas diferenças. Você vivia cheia de ambições E eu querendo parcas
recompensas. O mundo era seu limite O meu mundo é aqui. Você queria participar da
elite E eu uma casa e um guri. Mas isso não nos impediu De ficarmos juntos. Mas agora você partiu E eu fiquei em prantos. Sinto falta das noites de
inverno Em que nos amávamos no pesqueiro. Dos beijos entre as juras de
amor eterno Gravadas no tronco do
abacateiro. Dos passeios à luz da lua No calçadão da Estação. De te sentir totalmente nua Nas águas do açude do Brejão. Hoje vejo pelo notebook Suas fotos em Portugal. Postadas no Facebook Com novos amigos do local. Lembro-me com muita dor Daquela nossa ultima
conversa. Em que terminamos nosso amor E liberdade fora a única
promessa. Mas fico muito tempo a
imaginar Se tu já encontraras alguém. Se tu tens outro em meu
lugar Ou se pensas assim também. Agora atravesso só e
sofrendo A passarela sobre a
Anhanguera. Observando os angicos
florescendo Nas manhãs frias de
primavera. .
Antes de para bem longe
partir Fiquei pensando no que
deixei de dizer Hoje de novo vou passar o
tempo a sorrir Mesmo estando o meu peito a
doer Naquelas noites de inverno em
que o vento soprava Fiquei pensando “Não quero
me separar” Mas acabei ouvindo coisas
que não imaginava E fui ferido por quem dizia
me amar O amanhã chegou e tive que
dizer adeus E hoje ando sozinho
suspirando sobre os ipês Lembrando de planos que
julgava meus Que se desfizeram sem
revelarem os porquês As flores que caem dançam e
dançam Ao som da música tocada pelo
vento Mas as feridas do meu
coração não amansam Continuam expelindo todo meu
tormento Não importa que tipo de dor
atinja meu coração Nunca vou desistir da busca
por uma amada Vou colocar um final em toda
essa solidão Abrindo a porta que pelo
destino foi selada