quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Sobre a Via Anhanguera



Na passarela sobre a Anhanguera
Recordo-me da ultima vez que te vi.
Era uma manhã fria de primavera
E cantava um solitário bem-te-vi.
 
Os angicos pareciam geados
Devido à profusão de flores.
Seus olhos brilhavam excitados
Cheios de novos amores.
 
Eu não tinha a menor consciência
De que ali seria nossa despedida.
No lugar que por coincidência
Conheci você, amor da minha vida.
 
Tu estavas a minha espera
Como sempre naquela manhã,
Observando a Via Anhanguera
Quentinha em seu cartigã.
 
Cheguei mansamente por trás
E te aconcheguei em meus braços.
Fiquei ébrio no prazer que me traz
Estes momentos de entre laços.
 
Você levantou um braço
Até minha nuca encontrar.
Forçando-me ao seu pescoço
Para sua pele eu beijar.
 
E depois deste eterno momento
Que durou apenas um segundo,
Virou-se num único movimento
Olhando-me nos olhos, bem fundo.
 
Então tu me deste uma notícia
Que eu jamais esperava.
E recebi com alegria factícia
Enquanto meu coração parava.
 
Pela Universidade de Coimbra
Você fora finalmente convocada.
Seus anos de estudos com fibra
Proporcionou-te essa jornada.
 
Seus olhos radiavam alegria
Seu rosto denunciava a emoção.
E eu escondi minha agonia
E a dor em meu coração.
 
Sempre tivemos plenas noções
De nossas muitas diferenças.
Você vivia cheia de ambições
E eu querendo parcas recompensas.
 
O mundo era seu limite
O meu mundo é aqui.
Você queria participar da elite
E eu uma casa e um guri.
 
Mas isso não nos impediu
De ficarmos juntos.
Mas agora você partiu
E eu fiquei em prantos.
 
Sinto falta das noites de inverno
Em que nos amávamos no pesqueiro.
Dos beijos entre as juras de amor eterno
Gravadas no tronco do abacateiro.
 
Dos passeios à luz da lua
No calçadão da Estação.
De te sentir totalmente nua
Nas águas do açude do Brejão.
 
Hoje vejo pelo notebook
Suas fotos em Portugal.
Postadas no Facebook
Com novos amigos do local.
 
Lembro-me com muita dor
Daquela nossa ultima conversa.
Em que terminamos nosso amor
E liberdade fora a única promessa.
 
Mas fico muito tempo a imaginar
Se tu já encontraras alguém.
Se tu tens outro em meu lugar
Ou se pensas assim também.
 
Agora atravesso só e sofrendo
A passarela sobre a Anhanguera.
Observando os angicos florescendo
Nas manhãs frias de primavera.
 
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