Sábia cigana que vem
Com tarôs e simpatias
Sempre buscando o bem
Livrando-nos das agonias
Seus caminhos são restritos
Sua sorte é sempre incerta
O preconceito lhe traz
atritos
Contra o ódio estás sempre alerta
Venha com seus belos poderes
Desvendar os futuros mistérios
Lendo as palmas dos seres
Que buscam apenas refrigérios
Seus olhos enxergam o além
Seus ouvidos ouvem o inaudito
Seu sorriso nunca tem desdém
Sua força espanta o maldito
Conhecedora dos arcanos
Seguidora das estrelas
Mostrai nossos enganos
Curai nossas mazelas
Tu vagas por outros planos
Nos sonhos ou mesmo desperta
Com o sagrado combate os
profanos
Que deixam nossa vida
deserta
.
Eu nasci minúscula
Dentre outras milhares
Segui ao sabor dos ventos
Entre as copas das arvores
Vi muitas luas e sois
poentes
Neste voo inserto e inseguro
Até que as nuvens potentes
Moldaram todo o meu futuro
Molhada eu fui ao solo
E ali esperei paciente
O chão cobriu-se de gelo
E me deixou dormente
E neste longo sono
Sonhei em ser gigante
Numa noite de outono
Sob um céu delirante
Mas o calor resurgiu
E o gelo em água verteu
Vi-me presa num ardil
Pois minha forma converteu
Raízes eu criei
E comecei a subir
No solo me cravei
Sem ter como fugir
Dei adeus ao vento
Mas ele não partiu
Às vezes sopra lento
Às vezes mais febril
Muitas luas passaram
E muitos sóis também
As geleiras brincaram
Num eterno vai e vem
E numa noite de outono
Um gigante eu já era
Meus cones em sono
Esperando a primavera
Neles estão sementes
Tal e qual como eu era
Esperando impacientes
O Vento da primavera
Ela corria livre e solta
Entre bolhas e raios
Na própria luz envolta
Nestes seus domínios
Percorrendo abismos
Desafiando vagalhões
Provocando sismos
Destroçando grilhões
Perdida no tempo
Banida do espaço
Cortando o vento
Buscando um laço
Propósito perdido
Objetivo latente
Momento premido
Razão ausente
Quebrando planos
Criando dimensões
Ruindo universos
Abrindo vastidões
Uma força bruta
Um ser Elemental
Energia revoluta
A criação original
.
O Passado bateu em minha
porta
Trazia consigo o frio e a tristeza
Vividos numa hora há muito
morta
Crias paridas num ato de
pobreza
Veio escondido atrás de uma
orca
Nas mãos de uma covardia
insana
Uma atitude completamente
torta
Na falha razão de uma mente
tirana
Seria uma satisfação
mórbida?
Prazer em tirar o meu sossego?
Só uma atrasada alma perdida?
Uma torpe amostra de
desapego?
Minha razão não abarca essa
escuridão
Minha alma recusa esse
meandro correr
Retorne Passado para aquela
imensidão
Onde o esquecimento faz tudo
dissolver
Meu espírito já não sente
esse frio
Meu coração já curou essa
tristeza
Fique em paz Passado naquele
vazio
Onde a dor já está morta de
fraqueza
.
A primeira perda foi o
conforto
Lugar santo, quente e amorfo
Onde foi gerado o meu corpo
A segunda foi minha mãe
amada
Pela violência ela foi
levada
E a justiça me fora negada
A terceira foi minha
inocência
Pela vida cheia de
indecência
Mal chegando à adolescência
A quarta foram meus sonhos
Pelos deveres medonhos
Para obter os ganhos
A quinta foi minha vida
Por uma bala perdida
Numa disputa bandida
Agora sou uma alma nua
E estou diante do Infinito
Cumprindo a sentença crua
O meu santo veredicto
Agora sei que minhas perdas
Não justificam meus feitos
Agora as horas passam lerdas
Enquanto espio meus atos
Eu poderia perder tudo
Menos a minha alma
Deveria enfrentar tudo
Tendo a fé como arma
.
Busquei um caminho
Só achei uma trilha
Busquei por carinho
E cai na armadilha
Eu queria apenas flores
E encontrei espinhos
Eu buscava por amores
Não ciúmes mesquinhos
Eu sonhei com liberdade
Mas acabei numa prisão
Eu almejava lealdade
E encontrei a escravidão
Eu procurei por felicidade
E me afoguei em magoas
Fui conquistar a intimidade
E consegui apenas nódoas
Fui desejar segurança
Só obtive temeridades
Fui viver na esperança
E só vivi obscuridades
Era apenas um sonho
Mas virou um pesadelo
Um destino medonho
Tal qual trama de novelo
Uma pessoa farsante
Um ser de maldade
Que num belo instante
Tirou-me a sanidade
.
Outro Ano Novo
Com novidades?
Ou tudo de novo?
Eu quero muito a mudança
Mas não a do tempo
Aquela que a alma alcança
Reconstruir a vida
Curar minhas feridas
Alterar a minha lida
Ter novos amores
Mudar a rotina
Viver novas dores
Matar a saudade dos vivos
Deixar os mortos no passado
Manter meus medos cativos
Descobrir novos amigos
Traçar novos objetivos
Derrotar velhos inimigos
Dar uma oportunidade
Uma nova chance ao mundo
Para toda humanidade
Viver o amor e ser feliz
Simplesmente
Nada além do meu nariz
.